lunes, 31 de marzo de 2014

Un proyecto investiga sobre la toxicidad de las nanopartículas

Hay que ver bien lo que dicen, pero en principio leo lo siguiente en su Informe final:

Thus, our knowledge of nano-science leads us to following conclusions:

- Standard tests for toxicity of materials or chemical substances are not suitable for nano
materials. New test have to be developed

- Nano-science will help to develop new tests for nano-products

- Nano-products environmental and health impacts must be evaluated case by case.

- Present knowledge of nano-science tells us that in most cases nanoparticles will
agglomerate and or dissolve, and not act on humans or animals as nano-objects. (esto por ejemplo esta en contradiccion con el paper que se comento en este mismo blog)

- Precautionary principle is to be regarded from the point of view of the possible negative
impact of new regulations in the field of nanotechnology on citizens’ health and safety ,
since they may prevent to implement important new technologies.

Saludos,

Santiago


Extraido de La Flecha





La nanotecnología está llamada a ser uno de los motores tecnológicos esenciales de la transformación de la Unión Europea en una verdadera Unión por la innovación. Se le atribuyen unas posibilidades inmensas para la obtención de productos innovadores, desde mejores cosméticos y tejidos hasta avances en la preservación de alimentos.

Sin embargo, aparte de estas positivas ventajas, los nanomateriales artificiales (NMA) y las aplicaciones de la nanotecnología plantean también inquietud por sus posibles efectos en la salud y la seguridad de las personas y en el medio ambiente. Antes se carecía de estudios sistemáticos sobre los peligros de los NMA o de la exposición a los mismos, pero la comunidad científica europea se afana en los últimos años por remediar esta situación. Hasta la fecha se han completado o puesto en marcha en torno a 50 proyectos, amparados en el 6PM o el 7PM, dedicados al desarrollo de la nanotecnología y a la gestión de su seguridad. Estos proyectos han supuesto una inversión total de 137 millones de euros.

NANOFORCE es uno de esos valiosos proyectos. Concretamente, está centrado en la nanotecnología aplicada a la industria química. Sus responsables anunciaron recientemente los resultados de sus pruebas en laboratorios ubicados en Italia, Eslovenia y Polonia. Todos ellos investigaron la toxicidad de las nanopartículas empleadas en varios productos.

Veneto Nanotech, sito en Italia, estudió los factores de riesgo asociados a las nanopartículas incluidas en numerosos productos antibacterianos. Según sus indagaciones, el riesgo asociado a la exposición de un usuario durante una tarea de barnizado era muy bajo, sobre todo si se utilizaba una brocha. No obstante, el riesgo se elevaba al utilizar un producto de limpieza que desprendiera material pulverizado en un espacio interior. Científicos de la Universidad de Nova Gorica (Eslovenia) examinaron la toxicidad de las nanopartículas existentes en agua lixiviada procedente de pinturas. Según los resultados, la cantidad de nanopartículas liberadas de estas pinturas era mucho mayor en caso de inmersión si se compara con la acción de la lluvia o con una tarea de lavado. Por su parte, los socios polacos del Instituto de Física de Alta Presión (IHPP, Polonia) investigaron la toxicidad de un nanopolvo de ZnO sintético. Después de sus experimentos, el equipo determinó que no es adecuado extraer conclusiones sobre la toxicidad de las nanopartículas realizando pruebas simples de adición de estas a un medio.

NANOFORCE aspira a trabar vínculos entre las esferas científica y comercial en la zona de Centroeuropa, y por ello sigue un planteamiento extraordinario de interacción directa con entidades industriales, en concreto empresas químicas. En palabras de un representante del proyecto: «Nuestro objetivo general consiste en integrar en mayor medida la ciencia, la industria, las finanzas, la gestión y la regulación para lograr que las nanotecnologías aporten las ventajas previstas a las generaciones europeas de ahora y del futuro.’

NANOFORCE sólo representa una porción de la campaña europea en pro de la seguridad nanotecnológica. Está integrado en la agrupación sobre nanoseguridad (Nanosafety Cluster) constituida por la UE con el propósito de incrementar al máximo posible la coordinación y la colaboración en el seno de las investigaciones en curso dedicadas a este tema, siendo un ejemplo de ello el trabajo realizado por los integrantes de NANOFORCE.

Esta agrupación, que consta de proyectos tanto del 6PM como del 7PM, pretende aumentar lo más posible las sinergias entre proyectos que abarcan todos los aspectos de la nanoseguridad, incluyendo la toxicología, la ecotoxicología, la evaluación de la exposición, los mecanismos de interacción, la evaluación de los riesgos y la normalización.



viernes, 21 de marzo de 2014

Anticomunista, católico, golpista bem sucedido: conheça o cinema do Ipês

Esto me hace acordar a como se maneja alguna gente aun hoy en la actualidad, lo de darle un nombre de arbol al instituto hace ver su poca originalidad...realmente patetica.

Abrazos, Santiago

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Conheça o cinema do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, fundado em 1961, essencial na aceitação pacífica do golpe por grande parte da sociedade civil.

E é justamente para coordenar o pensamento e a ação de todos aqueles que não querem ficar de braços cruzados diante da catástrofe que nos ameaça, que é necessário criarmos um organismo novo, com uma mensagem nova para a nova realidade do Brasil de hoje. Temos uma finalidade básica: evitar que a difícil situação que o país atravessa venha a comprometer nossas instituições democráticas e tradições cristãs.


Esse discurso faz parte do vídeo, um curta-metragem documentário chamado "O que é o Ipês”, um dos quinze curtas (que se tem notícia) produzidos pelo Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, fundado em 1961. 




 Caio Hornstein e Rodrigo Giordano arquivo de youtube.com






O artífice de sua criação é o general Golbery do Couto e Silva. A ele se juntaram empresários e “democratas” que pretendiam “ver, julgar e agir em defesa da pátria”.

O nome do instituto vem da árvore tipicamente brasileira, a qual perde as folhas para florir novamente, simbolismo que evidencia a principal intenção do instituto: derrubar o governo legítimo para construir um novo país.

Como base teórica e prática, os fundadores optaram pela soma da Ata da Aliança para o Progresso, projeto de Kennedy que consistia em apoio financeiro americano para evitar o avanço comunista em países da América Latina, e os princípios da Encíclica Mater et Magistra (Sobre a recente evolução da questão social à luz da doutrina cristã), escrita em 1961 pelo Papa João XXIII.


O verdadeiro princípio do Ipês, no entanto, era construir, a partir de incentivos financeiros estrangeiros e do empresariado local, um aparato ideológico de comunicação a fim de afastar o perigo comunista, derrubar as Reformas de Base propostas por João Goulart e conseguir o apoio civil na troca por um governo que garantisse a manutenção da ordem e da propriedade privada.

Na fundamental obra 1964: A Conquista do Estado, o autor René Armand Dreifuss aponta que “o que ocorreu em 1964 não foi um golpe conspirativo, mas sim o resultado de campanha política, ideológica e militar travada pela elite orgânica, centrada no complexo Ipês/IBAD.” O Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) era uma organização anticomunista, fundada em 1959.

Em conjunto com o Ipês, visava fazer oposição ao governo através de propaganda em todos os meios de comunicação possíveis. No entanto, foi dissolvido em 1963, após CPI que apurou o financiamento do instituto a partir de fundos de origem estrangeira sem autorização. Entre as empresas que desviavam dinheiro para o IBAD estavam Texaco, Shell, Esso, Bayer, IBM, Coca-Cola, General Motors.

Em seu livro Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe, Denise Assis aponta que 70% das doações feitas ao Ipês tinham origem nas seguintes empresas: Listas Telefônicas Brasileiras, Light, Cruzeiro do Sul, Refinaria União e ICOMI (Indústria e Comércio de Minerais). Estava posto, portanto, o suporte financeiro para a produção do material de propaganda ideológica. Documentos, seminários, livros, filmes, espaços no rádio e na TV: o Ipês se utilizou de todos os meios possíveis para fazer chegar sua mensagem à sociedade.

Os diretores do instituto consideravam o cinema a mais forte fonte de propaganda da época. Foi elaborada, então, uma comissão composta por ensaístas, escritores e intelectuais com o intuito de produzir roteiros para os filmes que levariam ao público a posição do Ipês em relação ao contexto político e social brasileiro da época. O fotógrafo francês Jean Manzon participou ativamente das atividades de produção e direção de vários curtas do Ipês, assim como o produtor Carlinhos Niemeyer, inventor do Canal 100. O escritor José Rubem Fonseca revisava os roteiros. Como é possível ver no vídeo abaixo, o curta "A Boa Empresa", os primeiros filmes produzidos eram primordialmente voltados ao empresariado e ao operariado da fábrica, tratando de temas mais específicos, rechaçando a ação de greve (“traz prejuízo e angústia a toda coletividade”) e enaltecendo o empreendimento privado.

O cenário político e o aumento das tensões, porém, fazem com que os filmes passem a ser mais incisivos, passando a tratar de assuntos mais universais. A chamada do público para tomar algum tipo de ação é direta, mas qual ação seria essa especificamente fica apenas sugerido. No vídeo abaixo, o curta "O Brasil precisa de você", a manipulação barata da montagem coloca lado a lado Musolini, Hitler, Stalin e Fidel Castro.

A ideia era relacionar um regime de esquerda com o totalitarismo. No final, a mensagem é enfática: "O Brasil não pode esperar mais". A utilização do cinema como instrumento político era feita de forma padronizada. Os filmes são didáticos e informativos, sempre com uma voz over masculina (o locutor Luiz Jatobá), cujas explicações são ilustradas pelas imagens. A montagem é usada tanto para a criação de uma ideia de ameaça, quanto para uma imagem de harmonia social, dependendo do tema do curta.

 O Ipês tinha acerto com distribuidoras e exibidoras para que os filmes fossem exibidos em sessões regulares, antes de filmes estrangeiros. Além disso, todo material criado pelo instituto (filmes, panfletos, livros) era enviado para sindicatos, grêmios estudantis e empresas. A intenção era não só angariar simpatizantes à causa, mas formar de fato quadros conservadores nesses setores. E apesar de ter a burguesia e a classe média como alvos, os filmes também foram exibidos em favelas e bairros de periferia, onde era dada ênfase no caráter ateu do comunismo.

O Ipês concentrou suas atividades cinematográficas entre 1962 e 1963. Após o golpe, com a missão cumprida, os empresários não viam mais sentido em continuar bancando as produções do instituto. A pretensão inicial já havia sido conquistada: o apoio civil contra o governo e a organização da elite empresarial.

Em sua obra acima citada, Denise Assis aponta o Ipês como "a mais poderosa agremiação civil dos últimos tempos". Ela divide da opinião de Dreifuss, para quem a propaganda massiva elaborada pelo instituto pavimentou a queda do governo Jango. O Ipês foi essencial na aceitação pacífica do golpe por grande parte da sociedade civil e sua produção cinematográfica ajudou a construir as condições políticas para o levante militar de 1964.

miércoles, 5 de marzo de 2014

Silencing the Scientist: Tyrone Hayes on Being Targeted by Herbicide Firm Syngenta

Vean Esto:



http://www.democracynow.org/2014/2/21/silencing_the_scientist_tyrone_hayes_on

We speak with scientist Tyrone Hayes of the University of California, Berkeley, who discovered a widely used herbicide may have harmful effects on the endocrine system. But when he tried to publish the results, the chemical’s manufacturer launched a campaign to discredit his work. Hayes was first hired in 1997 by a company, which later became agribusiness giant Syngenta, to study their product, atrazine, a pesticide that is applied to more than half the corn crops in the United States, and widely used on golf courses and Christmas tree farms. When Hayes found results Syngenta did not expect — that atrazine causes sexual abnormalities in frogs, and could cause the same problems for humans — it refused to allow him to publish his findings. A new article in The New Yorker magazine uses court documents from a class action lawsuit against Syngenta to show how it sought to smear Hayes’ reputation and prevent the U.S. Environmental Protection Agency from banning the profitable chemical, which is already banned by the European Union.
JUAN GONZÁLEZ: What was the process within the company? As you raised your findings, what was their immediate reaction to what you had come across?

TYRONE HAYES: Well, initially they seemed sort of supportive. You know, we designed more studies. We designed more analysis. And they encouraged me to do more analysis. But as the further analysis just supported the original finding, they became less interested in moving forward very quickly, and eventually they moved to asking me to manipulate data or to misrepresent data, and ultimately they told me I could not publish or could not talk about the data outside of their closed panel.

AMY GOODMAN: And, Professor Hayes, talk about exactly what you found. What were the abnormalities you found in frogs, the gender-bending nature of this drug atrazine?

TYRONE HAYES: Well, initially, we found that the larynx, or the voice box, in exposed males didn’t grow properly. And this was an indication that the male hormone testosterone was not being produced at appropriate levels. And eventually we found that not only were these males demasculinized, or chemically castrated, but they also were starting to develop ovaries or starting to develop eggs. And eventually we discovered that these males didn’t breed properly, that some of the males actually completely turned into females. So we had genetic males that were laying eggs and reproducing as females. And now we’re starting to show that some of these males actually show, I guess what we’d call homosexual behavior. They actually prefer to mate with other males.

AMY GOODMAN: And so, where did you go with your research?

TYRONE HAYES: Well, eventually, what happened was the EPA insisted that—the Environmental Protection Agency insisted that the manufacturer release me from the confidentiality contract. And we published our findings in pretty high-ranking journals, such as Proceedings of the National Academy of Sciences. We published some work in Nature. We published work in Environmental Health Perspectives, which is a journal sponsored by the National Institutes of Health.

JUAN GONZÁLEZ: And when did you begin to get a sense that the company was organizing a campaign against you? What were the signs that you saw post the period when you published your findings?

TYRONE HAYES: Before we published the findings and before the EPA became involved, the company tried to purchase the data. They tried to give me a new contract so that they would then control the data and the experiments. They actually tried to get me to come and visit the company to get control of those data. And when I refused, I invited them to the university, I offered to share data, but they wanted to purchase the data. And then they actually—as mentioned in the New Yorker article, they actually hired scientists to try to refute the data or to pick apart the data, and eventually they hired scientists to do experiments that they claim refuted our data.
And then that escalated to the company actually—Tim Pastoor, in particular, and others from the company—coming to presentations that—or lectures that I was giving, to make handouts or to stand up and refute the data, and eventually even led to things like threats of violence. Tim Pastoor, for example, before I would give a talk, would literally threaten, whisper in my ear that he could have me lynched, or he would—quote, said he would "send some of his good ol’ boys to show me what it’s like to be gay," or at one point he threatened my wife and my daughter with sexual violence. He would whisper things like, "Your wife’s at home alone right now. How do you know I haven’t sent somebody there to take care of her? Isn’t your daughter there?" So, eventually, it really slipped into some, you know, pretty scary tactics.

AMY GOODMAN: So, what did you do? I mean, you’re actually—I mean, this is very serious. You could bring criminal charges if you’re being threatened and stalked in this way.

TYRONE HAYES: Well, initially, I went to my vice chancellor here at the university. I went to my dean. I went to legal counsel here at the university. And I was told by legal counsel that—well, I was told, first of all, by the vice chancellor for research at the time that, "Well, you published the work. It’s over. So I don’t understand what the problem is." And I tried to impress upon her, Beth Burnside, at the time that—you know, that it wasn’t over, that I was really being pursued by the manufacturer. And eventually, when I spoke with the lawyer here at the University, I was told that, "Well, I represent the university, and I protect the university from liability. You’re kind of on your own." And I remember I looked at him, and I said, "But the very university, from the Latin universitas, is a collection of scholars, of teachers and students, so who is this entity, the university, that you represent that doesn’t include me?" But clearly there’s some entity that doesn’t really include us, the professors and students, and doesn’t really protect our academic freedom, I think, the way that it should.

JUAN GONZÁLEZ: I wanted to ask you about one of your critics, Elizabeth Whelan, president of the American Council on Science and Health. When The New York Times ran a critical story about the herbicide as part of its toxic water series in 2009, she referred to its reporting as, quote, "all the news that’s fit to scare." This is a clip of Whelan from an interview on MSNBC.
ELIZABETH WHELAN: I very much disagree with the New York Times story, which is really raising concerns about a totally bogus risk. Atrazine has been used for more than 50 years. It’s very, very tightly regulated. Even the Environmental Protection Agency, which is not known for soft-pedaling about environmental chemicals, even they say it’s safe.

JUAN GONZÁLEZ: Well, it turns out that Syngenta has been a long-term financial supporter of Whelan’s organization, the American Council on Science and Health, paying them at least $100,000. Your comments on her remarks?

TYRONE HAYES: Well, again, they’re paid remarks. And one of the most disheartening things in this whole process is that many of my critics—you know, it’s one to be academic, if you come and say, "Well, we interpreted the data this way, and we want to argue about this point," but these people really didn’t even have an opinion. These opinions were written by the manufacturer, and they were paid to put their names on them, to endorse the opinions of the manufacturer. So, you know, that’s one of the most disheartening things, that they were really just personalities for sale.
And many of the things that she’s saying there is just not true. There are—any independent study, from any scientist that’s not funded by Syngenta, has found similar problems with atrazine, not just my work on frogs. But I’ve just published a paper with 22 scientists from around the world, from 12 different countries, who have shown that atrazine causes sexual problems in mammals, that atrazine causes sexual problems in birds, amphibians, fish. So it’s not just my work in amphibians.
And also, with regards to the EPA, one of the scientific advisory panel members on the EPA that was supposed to review atrazine turns out is paid and works for Syngenta. So the whole process was tainted. And, in fact, the EPA ignored the scientific advisory panel’s opinion and actually decided to keep atrazine on the market and not to do any more studies, when that clearly wasn’t the recommendation of the scientific advisory panel.

JUAN GONZÁLEZ: I wanted to go back just a second to your remarks about your university, because obviously there are many questions about major universities around the country being, in some way or other, supported financially by the pharmaceutical or the drug industry. But you are at a prestigious university, one of the top universities in the country, at Berkeley. Do you have some concerns about how your university responded to your—in your time of need, and the attack on your academic integrity?

TYRONE HAYES: Well, they’re not just my concerns. There are many at the university who fear that the university is just becoming a corporation. You know, we’re a public university that used to get a lot more support from the state. In my lifetime, tuition was free for students. Tuition has been rising. And it’s really an effort to monetize things, and that includes scientific researchers. There’s a lot of pressure on us not just to be scholars and to teach and to do research, but also to bring in funds that will support the university. So there’s some sentiment from the university that if you are raising a concern potentially that might cause the university to lose support or to lose funders, then you won’t necessarily get the support on the campus that you need. And we’ve seen this over and over again. A colleague of mine, Ignacio Chapela, for example, was in a fairly huge battle over the same company, Novartis, and its influences over scientific research at the university.

AMY GOODMAN: Can you talk about the significance of Syngenta? First of all, is it a significant presence at the university, at UC Berkeley? But also, the significance of Syngenta as a pesticide company and all that it makes, how powerful is it?

TYRONE HAYES: Well, when they were—when I was originally consulting for the manufacturer, they were Novartis at the time. And Novartis had a big influence on the campus. There was a major deal on the campus. I understand a fifth of the biological sciences’ support was coming from Novartis. And at the time, they both made pesticides, and they made pharmaceuticals.
One of my big concerns is that, as of the year 2000—prior to the year 2000, Novartis not only made atrazine, which is used on corn, of course, which is an herbicide, but it also induces an enzyme called aromatase. It causes you to make too much estrogen. And it’s now been shown that this herbicide, atrazine, and this mechanism, is potentially involved in development of breast cancer, for example. Up until 2000, the company also made a chemical called letrozole, which did exactly the opposite: It blocked aromatase, it blocked this enzyme, it blocked estrogen production. And this chemical, letrozole, is the number one treatment for breast cancer. So this company was simultaneously in 2000 making a chemical that induced estrogen and promoted breast cancer, and making a chemical that blocked estrogen production and was being used to treat breast cancer. So there’s a clear conflict of interest there, a clear problem.
The other problems are that something like 90 percent of the seeds that we use to produce our food right now are owned by the big six pesticide companies. So, again, there’s a conflict of interest where the companies have an interest in, I guess, getting us addicted to the pesticides, to grow the seeds that they also own. And Syngenta, of course, is one of those big six, one of the big pesticide or agribusiness companies.

JUAN GONZÁLEZ: And a New Yorker that delves into your story also says that you came to find out that the company was also reading your emails. Could you talk about that?

TYRONE HAYES: Well, I originally—I had some suspicion that they had hacked into my email. And originally found out—there was a professor at Minnesota, and I was going there to give a big lecture, and this professor in the School of Public Health, Deb Dubenofsky, said that she happened to be standing in line at the airport, flying back to Minnesota, and just by coincidence she was standing behind somebody who was having a conversation on his cellphone and who identified himself as an employee of Syngenta, and he made the statement, "We have access to his email. We know where he is at all times." So it wasn’t just paranoia on my part. I had direct evidence that they had access to my email. And at the time, I maintained a second and a third email that I could keep private, and I actually used that information, that they had access to my email, to send them information, and sometimes false information—for example, booking plane tickets through that email, because then I could sent them to the wrong place, so they wouldn’t necessarily be there to follow me when I was going to speak in other places.

AMY GOODMAN: I mean, Professor Hayes, this is stunning stuff that came out in this class action suit. The suit wasn’t brought by you, but the documents that came out that referenced you, Tyrone Hayes, TH, and trying to discredit you, trying to discredit your family, talk—that was a lawsuit that involved atrazine contaminating water supplies.

TYRONE HAYES: Yes.

AMY GOODMAN: But what was your reaction when you saw this? You suspected this. You felt you were being followed. You felt you were—they were trying to discredit you. But now you had the documents.

TYRONE HAYES: Well, you know, it’s funny. You know, the way the article reads, that I suspected—I mean, I knew. I knew Tim Pastoor. I knew Sherry Ford. I knew many of the individuals who would follow me around. I knew who they were. I knew they had access to my email. You know, so, for me, I knew that these things were happening. This guy would directly come up and make lewd comments to me and threatening comments to me. But it was the kind of thing where, you know, it sounded like something out of a movie. I couldn’t go and tell my colleagues, like, "They’re following me around, and, you know, they’re hacking into my email"—

AMY GOODMAN: Did you record?

TYRONE HAYES: —because I would look crazy.

AMY GOODMAN: Did you put on a tape recorder?

TYRONE HAYES: You know, what I found—here’s how I’ll answer that question. What I found out, that it was much more powerful for me to suggest and have them think that I recorded everything than for them to actually know what I recorded. And that actually became sort of my protection. So, when this guy came up and threatened me and threatened my wife, to then go back and go, "Oh, my god, did he record that or not?" So, it was much more powerful for me to have them think that. But you can see in their handwritten notes that they were very concerned that I was recording conversations. There’s notes that they wanted to trap me, to entice me to sue, and these kinds of things.
And my reaction now, to see it all in The New Yorker and for—you know, all this open for the world to see, is—there are two reactions. One is, I can’t believe they wrote these kinds of things down, right? That you’re plotting to, you know, investigate me and investigate my school and investigate my hometown and all these kinds of things, and you wrote it down. But my other response is, this is quite analogous to, you know, when you hear these stories of somebody who’s been in jail for murder for 10 years, and then the DNA evidence gets them out, you know, and you ask them, "Are you happy?" Well, of course I’m happy, but I’ve also been in jail for 10 years. You know what I mean? So, of course I’m happy now that these documents have all been revealed, but it’s also been a very difficult time for me for the last—and for my family, you know, for the last 10 or 15 years, for my students, as well, for the last 10 or 15 years, to be pursued this way and to be under a microscope this way and to feel threatened this way for so long.

AMY GOODMAN: As we wrap up, what’s happening with atrazine today? Where does it stand?

TYRONE HAYES: It’s still on the market. We’re still studying it. A number of studies are still coming out from around the world. One recent study has shown that male babies that are exposed in utero to atrazine, their genitals don’t develop properly. Their penis doesn’t develop properly, or they get microphallus. There are studies showing that sperm count goes down when you’re exposed to atrazine. And this is not just laboratory animals or animals in the wild; this is also humans. We use the same hormones that animals do for our reproduction. And it’s a big threat to environmental health and public health.

AMY GOODMAN: I want to thank you very much for being with us, Tyrone Hayes, a professor of integrative biology at the University of California, Berkeley, who’s devoted the past 15 years to studying atrazine, a widely used herbicide made by Syngenta. We’ll link to the article in The New Yorker magazine that reveals how the company tried to discredit Professor Hayes after his research showed atrazine causes sexual abnormalities in frogs and could cause the same problems for humans. The article is called "A Valuable Reputation: After Tyrone Hayes Said That a Chemical was Harmful, Its Maker Pursued Him." This is Democracy Now! We’ll be back in a minute.

Abrazos,

Santiago

martes, 4 de marzo de 2014

Chomsky: Sobre a precarização do trabalho e da educação na universidade

Comparto este comentario espectacular que hizo Chomsky sobre la precarizacion del trabajo en las universidades de los EUA, pero a mi entender extensible a varios tipos de precarizacion existentes en diferentes paises y bajo diferentes condiciones de trabajo. Como decia en este mismo blog Santiago Alba Rico creo que estamos en un mundo donde el capitalismo va por todo sin medir consecuencias, y en cierto sentido esto afecta no solo a la educacion o los ambientes de trabajo sino la salud humana  y en ultimo termino la vida misma. Hasta donde van a llegar no es facil de saber, esperamos si pertenecer a una epoca en que esta situacion cambie en pro de una economia e instituciones que piensen en el ser humano, definitivamente creo que hay que volver a los humanistas que han sido lamentablemente desterrados de la ciencia.

Abrazos

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02/03/2014 - Copyleft


O crescimento da contratação de temporários nas universidades dos EUA é parte de um modelo de negócios projetado para reduzir os custos do trabalho.


Noam Chomsky


O que se segue é uma transcrição editada de observações feitas por Noam Chomsky via Skype, no dia 4 de fevereiro de 2014, a membros e apoiadores da Adjunct Faculty Association [NT] do Sindicato dos Metalúrgicos, em Pittsburgh. As observações de Chomsky foram provocadas por perguntas feitas por Robin Clarke, Adam Davis, David Hoinski, Maria Somma, Robin J. Sowards, Matthew Ussia e Josué Zelesnick. A transcrição ficou a cargo de Robin J. Sowards e foi editada pelo próprio Chomsky.


Sobre o modelo de contratação de professores

Isso faz parte do atual modelo de negócios. É o mesmo que ocorre com a contratação de trabalhadores temporários na indústria ou com o que eles chamam de "associados" na Wal-Mart, funcionários que não tem direito a benefícios. É parte de um modelo de negócios privados projetado para reduzir os custos do trabalho e aumentar o servilismo no trabalho. A transformação das universidades em corporações, como tem ocorrido sistematicamente ao longo da última geração, como parte do assalto neoliberal geral sobre a população, veio acompanhada de um modelo de negócios onde o que importa é o lucro no final do balanço.

Os verdadeiros proprietários são os gerentes (ou legisladores, no caso das universidades estaduais) e eles querem manter os custos baixos e assegurar que o trabalho seja dócil e obediente. A melhor maneira de fazer isso é, fundamentalmente, contratar temporários. Assim como a contratação de temporários foi se disseminando na sociedade no período neoliberal, o mesmo fenômeno ocorreu nas universidades. A ideia é dividir a sociedade em dois grupos. Um grupo é às vezes chamado de “plutonomia” (plutonomy, um termo usado pelo Citibank para aconselhar seus investidores sobre onde aplicar seus recursos), o setor top da riqueza, concentrado principalmente nos Estados Unidos. O outro grupo, o restante da população, é um “precariado”, as pessoas que vivem uma existência precária.

Esta ideia, por vezes, torna-se bastante evidente. Quando Alan Greenspan testemunhou perante o Congresso, em 1997, sobre as maravilhas da economia, ele disse diretamente que uma das bases para o seu sucesso econômico era o que ele chamou de “maior insegurança dos trabalhadores”. Se os trabalhadores são mais inseguros, isso é muito “saudável” para sociedade, porque eles não ficar perguntando sobre seus salários, não vão entrar em greve, não vão pedir repartição de lucros, e vão servir a seus patrões de bom grado e de forma passiva. E isso é ótimo para a saúde econômica das empresas.

Na época, todo mundo achou o comentário de Greenspan muito razoável, a julgar pela falta de reação e pelo grande sucesso que ele gozava. Vamos transferir isso para as universidades: como garantir “maior insegurança dos trabalhadores”? Fundamentalmente, não garantindo o emprego, mantendo as pessoas penduradas em um galho que pode ser serrado a qualquer momento, de modo que elas saibam que é melhor calar a boca, receber pequenos salários, fazer o seu trabalho e se forem agraciados com a autorização para servir em condições miseráveis por mais um ano, devem se contentar com isso e não pedir nada a mais. Essa é a receita das corporações para manter uma sociedade eficiente e estável. Como as universidades se moveram na direção desse modelo de negócios, a precariedade é exatamente o que está sendo imposto. E nós vamos ver mais e mais do mesmo.

Há outros aspectos que também são bastante conhecidos na indústria privada, como um grande aumento dos níveis de administração e burocracia. Afinal, se você precisa controlar as pessoas, precisa ter uma força administrativa que faça isso. Assim, nas empresas dos EUA, mais do que em outros lugares, há sucessivos níveis de administração, uma forma de desperdício econômico, mas útil para o controle e a dominação. O mesmo ocorre em muitas universidades. Nos últimos 30, 40 anos, houve um aumento muito acentuado da proporção de administradores em relação ao número de professores e alunos. O nível de professores e alunos até aumentou, mas o de administradores subiu mais proporcionalmente.

Há um livro muito bom sobre esse tema, escrito por um conhecido sociólogo, Benjamin Ginsberg, chamado“The Fall of the Faculty: The Rise of the All-Administrative University and Why It Matters” (Oxford University Press, 2011), que descreve em detalhes esse estilo de administração com seus diversos níveis de administradores que, é claro, são muito bem pagos. Isso inclui os administradores profissionais, como os reitores, por exemplo, que costumavam ser membros do corpo docente que eram deslocados por alguns anos para exercer atividade administrativa e, depois, voltavam para seus afazeres acadêmicos. Agora, na maioria dos casos, eles são profissionais que contratam sub-reitores e secretários, fazendo proliferar toda uma estrutura administrativa. Esse é outro aspecto importante do atual modelo de negócios.

Mas o uso de mão-de-obra barata e fragilizada no trabalho é uma prática tão antiga quanto a iniciativa privada e os sindicatos surgiram em resposta a ela. Nas universidades, trabalho vulnerável e barato significa professores auxiliares e estudantes de pós-graduação. Alunos de graduação são ainda mais vulneráveis, por razões óbvias. A ideia é transferir as atividades universitárias aos trabalhadores precários, o que melhora a disciplina e o controle, e também permite a transferência de recursos para outras finalidades que não a educação. Os custos, naturalmente, são arcados pelos estudantes e pelas pessoas que são atraídas para estas ocupações vulneráveis. É uma característica normal dessa sociedade de gestão de negócios transferir os custos para o povo.

Os economistas cooperam com esse esquema. Suponha que você encontre um erro em sua conta corrente e ligue para o banco para tentar corrigi-lo. Bem, você sabe o que acontece. Vai telefonar e ouvirá uma mensagem gravada dizendo: “Nós amamos você, aqui está um menu de opções”. Talvez esse menu tenha o que você está procurando, talvez não. Se acontecer de você encontrar a opção correta, ouvirá alguma música e, de vez em quando, uma voz dirá: “Aguarde, por favor, enquanto transferimos a sua ligação”. Finalmente, passado algum tempo, você até poderá ser atendido por um ser humano a quem poderá fazer uma breve pergunta. Os economistas chamam isso de “eficiência”, um sistema que reduz custos trabalhistas para o banco. É claro que impõe custos para você e esses custos são multiplicados pelo número de usuários, que pode ser enorme, mas que não é contado como um custo no cálculo econômico.

Se você olhar o modo como a socieade funciona, verá esse tipo de prática em todo lugar. Assim, a universidade impõe custos aos alunos e professores que não são apenas temporários, mas colocados em um modelo que garante que eles não terão segurança. Tudo isso é perfeitamente normal dentro de modelos de negócios corporativos. É prejudicial para a educação, mas a educação não é seu objetivo.

Na verdade, se olharmos para mais longe, veremos que as raízes desse modelo são mais profundas ainda. Se voltarmos para o início dos anos 1970, quando muitas dessas coisas atuais começaram, havia muita precoupação em praticamente todo o espectro político sobre os temas do ativismo dos anos 1960.

Essa época foi chamada de “era dos problemas”, porque o país estava finando civilizado, e isso é periogoso. As pessoas estavam se tornando politicamente engajadas e estavam tentando conquistar direitos para grupos com os chamados “interesses especiais”, como as mulheres, os trabalhadores, os agricultores, os jovens, os idosos, e assim por diante. Isso levou a uma reação grave, o que foi muito evidente.

No final liberal do espectro político, há um livro chamado The Crisis of Democracy: On the Governability of Democracies (New York University Press, 1975 - Crise da Democracia: Sobre a Governabilidade das Democracias), um relatório elaborado por Michel Crozier, Samuel P. Huntington e Joji Watanuki para a Comissão Trilateral, uma organização de liberais internacionalistas. O governo Carter saiu praticamente todo de suas fileiras. Eles estavam preocupados com o que chamavam de “crise da democracia”. Para eles, o problema é que havia um “excesso de democracia”. Na década de 1960, havia pressões partindo de diversos setores da população, esses “interesses especiais” que referi, para tentar obter direitos na arena política. Para os autores, estava se colocando muita pressão sobre o Estado e isso era errado. Havia um “interesse especial” que eles deixaram de fora, que era o do setor empresarial. Mas esse interesse, para eles, se confundia com o “interesse nacional” de que não seria o caso de falar dele.

Os demais “interesses especiais” estavam causando problemas e esses autores disseram: “nós temos que ter mais moderação na democracia”, o público tem de voltar a ser passivo e apático. Eles estavam particularmente preocupados com as escolas e as universidades, que não estavam fazendo devidamente seu trabalho de “doutrinar os jovens”. O ativismo estudantil, sua participação nos movimentos de direitos civis, anti-guerra, feminista, ambiental, entre outros, mostrava que os jovens não estavam sendo doutrinados corretamente.

Como se doutrina os jovens? Há certo número de modos de fazer isso. Um deles é sobrecarregá-los com uma dívida irremediavelmente pesada. A dívida é uma armadilha, especialmente a dívida do estudante, que é enorme, muito maior do que a dívida do cartão de crédito. É uma armadilha para o resto de sua vida, porque as leis são projetadas para que você não fique de fora. Se uma empresa, por exemplo, fica muito endividada, ela pode declarar falência, mas os indivíduos quase nunca podem se aliviar de uma dívida por meio da falência. Eles podem até mesmo tirar sua seguridade social se você não pagar. Essa é uma técnica disciplinar. Eu não digo que foi conscientemente produzida para ter esse efeito, mas certamente tem esse efeito.

É difícil argumentar que há algum fundamento econômico para ele. Basta dar uma olhada pelo mundo: na maioria dos casos, o ensino superior é gratuito. Em países com os mais elevados índices de educação, como a Finlândia, o ensino superior é gratuito. Em um país capitalista rico bem sucedido como a Alemanha, é gratuito. No México, um país pobre, com padrões de educação bastante decentes considerando as dificuldades econômicas que enfrentam, é gratuito. Agora olhe para os Estados Unidos: se voltarmos para os anos 1940 e 50, veremos que o ensino superior estava muito perto da gratuidade. O GI Bill deu educação gratuita para um grande número de pessoas que, sem isso, nunca teria conseguido ir para a faculdade.

Foi muito bom para eles, para a economia e para a sociedade, sendo uma das razões para a elevada taxa de crescimento econômico naquele período. Mesmo em faculdades particulares, a educação era muito perto de ser gratuita. Eu fui para a faculdade, em 1945, em uma universidade da Ivy League, a Universidade da Pensilvânia, onde a taxa de matrícula foi de US$ 100. Isso talvez desse US$ 800 dólares hoje. E foi muito fácil obter uma bolsa de estudos. Então era possível morar em casa, trabalhar e ir para a escola sem grandes gastos. Hoje a situação é ultrajante. Tenho netos na faculdade que têm que pagar sua matrícula e trabalhar, o que é quase impossível. Para os alunos essa é uma técnica disciplinar.

Outra técnica de doutrinação é cortar o contato entre o aluno e o professor. Isso se faz com turmas grandes, professores temporários que estão sobrecarregados e mal conseguem sobreviver com seu salário. E uma vez que você não tem nenhuma estabilidade no emprego não é possível construir uma carreira. Você não pode seguir em frente e planejar evoluir na carreira. Estas são todas técnicas de disciplina, doutrinação e controle.

É muito parecido com o que você esperaria encontrar em uma fábrica, onde os trabalhadores têm que ser disciplinados para serem odebientes e não, por exemplo, para desempenhar um papel na organização da produção ou do local de trabalho. Essas funções são exclusivas dos gerentes. Pois esse modelo foi transportado para as universidades. E creio que não deve surpreender ninguém, que já teve alguma experiência com a iniciativa privada, a forma como funcionam.

Sobre como o ensino superior deve ser

Antes de tudo, devemos deixar de lado qualquer ideia de que houve algo como uma “idade de ouro”. As coisas eram diferentes e, em certo sentido, melhores no passado, mas longe de serem perfeitas. As universidades tradicionais eram extremamente hierarquizadas, com muito pouca participação democrática na tomada de decisões. Uma parte do ativismo dos anos 1960 queria justamente tentar democratizar as universidades, incluindo, por exemplo, representantes dos estudantes nas comissões do corpo docente. Esses esforços tiveram algum grau de sucesso. A maioria das universidades tem algum grau de participação dos estudantes nas decisões da instituição. Penso que deveríamos nos mover nesta direção: uma instituição democrática, onde as pessoas envolvidas (professores, alunos e funcionários) participam na definição das políticas da instituição e de como elas são exectutadas. E o mesmo deveria valer para uma fábrica.

Estas não são ideias radicais, devo dizer. Elas vêm diretamente da tradição do liberalismo clássico. Se lermos, por exemplo, John Stuart Mill, uma figura importante dessa tradição, veremos que ele concordava com a ideia de que os locais de trabalho deveriam ser administrados pelas pessoas que trabalham neles. Isso seria sinônimo de liberdade e democracia (ver, por exemplo, de John Stuart Mill, Princípios de Economia Política, livro 4, cap.7)

Podemos encontrar essas mesmas ideias nos Estados Unidos. Tomemos o caso dos Cavaleiros do Trabalho (Knights of Labor, primeira organização trabalhista nacional importante da história dos EUA, fundada em 1869 - NT). Um de seus objetivos declarados era “estabelecer instituições cooperativas, que tenderão a substituir o sistema de salários com a intordução de um sistema industrial cooperativado”. Ou ainda em alguém como John Dewey, filósofo “mainstream”do século 20, que defendeu não só uma educação voltada a desenvolver a independência criativa nas escolas, mas também o controle das indústrias pelos trabalhadores, o que ele chamou de “democracia industrial”.

Para Dewey, enquanto as instituições cruciais da sociedade (como produção, comércio, transporte e mídia) não estiverem sob o controle democrático, então a “política (será) a sombra projetada sobre a sociedade pelos grandes negócios” (“A Necessidade de um novo partido”, 1931). Essa ideia quase elementar, que tem raízes profundas na história dos Estados Unidos e no liberalismo clássico, deveria ser uma espécie de segunda natureza para as pessoas que trabalham e ser aplicada igualmente para as universidades.

Há algumas decisões em uma universidade onde não é o caso de ter (transparência democrática) porque, por exemplo, é preciso preservar a privacidade do aluno. Existem vários tipos de questões sensíveis, mas na maioria da atividade normal da universidade não há razão para a democracia direta não ser considerada legítima e útil. No meu departamento, por exemplo, por 40 anos tivemos representantes dos estudantes participando de reuniões do departamento.

"Governança compartilhada" e controle dos trabalhadores

A universidade é, provavelmente, a instituição em nossa sociedade que está mais próxima da ideia de um controle democrático dos trabalhadores. Dentro de um departamento, por exemplo, é normal que um professor possa determinar uma parte substancial de como será seu trabalho: o que vai ensinar, quando, como deve ser o currículo. A maioria das decisões sobre o trabalho real do departamento passa pelos professores. Há, é claro, um nível superior de questões que não fica sob seu controle. Pode-se indicar alguém para lecionar, digamos, e essa recomendação pode ser rejeitada pelos reitores ou administradores. Isso não acontece com muita frequência, mas pode acontecer. E isso sempre tem a ver com questões mais estruturais que, embora sempre tenham existido, representavam um problema menor quando os professores participam da administração.

Sob sistemas representativos, você tem que ter alguém fazendo o trabalho administrativo, mas esses mandatos devem ser revogáveis em algum momento. Isso ocorre cada vez menos. Existem cada vez mais administradores profissionais, em vários níveis, tomando decisões cada vez mais distantes do controle do corpo docente. Eu mencionei antes o livro “The Fall of the Faculty”, de Benjamin Ginsberg, que entra em muitos detalhes sobre como isso funciona em universidades como John’s Hopkins, Cornell e algumas outras.

Enquanto isso, o corpo docente se vê cada vez mais reduzido à categoria de trabalhadores temporários que têm a garantia de uma existência precária, sem perspectiva de evoluir na carreira. Eu tenho conhecidos que são efetivamente professores permanentes, mas eles não têm esse status na prática, tendo de se aplicar a cada ano de modo a serem nomeados novamente. Essas coisas não deveriam acontecer. E a situação dos auxiliares foi institucionalizada: eles não fazem parte do corpo de tomada de decisões e não tem segurança no emprego, o que só amplia o problema. Esse pessoal também deveria ser integrado ao processo de tomada de decisões, uma vez que fazem parte da universidade.

Portanto, há muito o quê fazer, mas podemos entender facilmente porque essas tendências estão se desenvolvendo. Isso tem a ver com a imposição de um modelo de negócio em quase todos os aspectos da vida. É a ideologia neoliberal sob a qual a maior parte do mundo tem vivido há 40 anos. Ela é muito prejudicial para as pessoas e não encontra resistência na maioria dos casos. Só duas regiões conseguiram escapar dela: a Ásia Oriental, onde ela nunca predominou, e a América do Sul, nos últimos 15 anos.

Sobre a alegada necessidade de “flexibilidade”

“Flexibilidade” é um termo que é muito familiar para os trabalhadores na indústria. Parte daquilo que costuma ser chamado de “reforma trabalhista” consiste em fazer o trabalho mais “flexível”, ou seja, fazer com que seja mais fácil contratar e demitir pessoas. É, mais uma vez, uma forma de garantir a maximização de lucro e de controle. “Flexibilidade”, supostamente, é uma coisa boa, assim como a “maior insegurança dos trabalhadores”. Deixando de lado a indústria, onde é exatamente isso o que ocorre mesmo, mas universidades não há justificativa para esse tipo de prática.

Consideremos o caso de um curso com baixo número de matriculados. Isso não é um grande problema. Uma de minhas filhas ensina em uma universidade e me disse que sua carga horária sofrerá alteração porque um dos cursos que estava sendo oferecido teve poucos matriculados. Ok, o mundo não acaba por causa disso. O professor ou professora pode dar um curso com uma metodologia diferente ou buscar outra alternativa. As pessoas não têm que ser jogadas fora ou ficar inseguras por causa da variação do número de alunos matriculados em um curso. Há várias possibilidades de ajuste para essa situação. A ideia de que o trbaalho deve atender às condições de “flexibilidade” é apenas mais uma técnica padrão de controle e dominação. Por que não dizer que os administradores devem ser jogados fora se não há nada para se fazer naquele semestre? A mesma situação se aplica aos altos executivos das indústrias: se o trabalho tem que ser flexível, o que dizer da gestão? A maioria deles é bastante inútil ou até prejudicial. Então vamos nos livrar deles. E você pode continuar assim.

Para tomar uma notícia dos últimos dias, que tal Jamie Dimon, CEO do banco JP Morgan Chase? Ele teve um aumento bastante substancial, quase o dobro de seu salário, por gratidão por ter salvo o banco de acusações criminais que teriam levado seus executivos para a cadeia. Conseguiram escapar com apenas US$ 20 bilhões em multas por atividades criminosas. Bem, eu posso imaginar que se livrar de alguém assim pode ser útil para a economia. Mas não é disso que as pessoas estão falando quando falam sobre a “reforma trabalhista”. São as pessoas que trabalham que devem sofrer. Devem sofrer por ter um trabalho inseguro, por não ter certeza sobre de onde sairá o pão de amanhã. Por isso, devem ser disciplinadas e obedientes e não fazer perguntas ou pedir por seus direitos. Essa é a maneira pela qual os sistemas tirânicos operam. E o mundo dos negócios é um sistema tirânico. Quando essa lógica é imposta às universidades, ela refletirá as mesmas ideiais. Isso não é nenhum segredo.

Sobre a finalidade da educação

Estes debates remontam ao Iluminismo, quando as questões de ensino superior e educação de massa estavam sendo levantadas, e não mais apenas a educação para o clero e a da aristocracia. Havia basicamente dois modelos discutidos nos séculos 18 e 19, e foram discutidos com imagens bastante sugestivas. Uma imagem da educação dizia que ela deve ser vista como um vaso que deve ser preenchido com água. Isso é o que chamamos hoje em dia de “ensinar para testar”: você derrama água dentro do vaso e, em seguida, ele devolve a água. Mas é um vaso muito permeável, como muitos de nós que passamos pela experiência da escola podemos constatar, já que podemos memorizar algo para um exame pelo qual não tínhamos muito interesse e, uma semana depois, não lembrarmos mais do que se tratava. O modelo do vaso nos dias de hoje é chamado de “nenhuma criança deixada para trás”, “ensinando para testar”, “corrida para o topo” e outras coisas semelhantes em universidades. Os pensadores ilumistas eram contrários a esse modelo.

O outro modelo foi descrito pela imagem de uma corda estendida ao longo da qual o aluno progride em seu próprio caminho, sob sua própria iniciativa, talvez seguindo a corda, talvez decidindo ir para outro lugar, talvez levantando questões. Seguir a corda significa impor algum grau de estrutura. Assim, um programa de educação, seja ela qual for, um curso sobre física ou algo assim, não será um vale tudo, terá certa estrutura. Mas o seu objetivo é que o aluno adquira a capacidade de investigar, de criar, inovar e desafiar – isso é que é a educação. Um físico mundialmente famoso, foi questionado uma vez por um aluno sobre qual seria o conteúdo do curso no semestre. Sua resposta foi: “não importa o que vamos tratar, mas sim o que você vai descobrir”. Você ganha capacidade e auto-confiança para desafiar e criar. Dessa forma você internaliza o tema do estudo e pode ir em frente. Não é uma questão de acumular uma quantidade fixa de fatos que, em seguida, você pode descrever em uma prova e amanhã já não lembrar.

Estes são dois modelos bem distintos de educação. O ideal iluminista foi o segundo e eu acho que é isso que devemos nos esforçar em buscar. Essa é a verdadeira educação, do jardim de infância à pós-graduação. Na verdade, existem programas desse tipo, muito bons, para o jardim de infância.

Sobre o amor de ensinar

Nós certamente queremos que as pessoas, tanto professores como alunos, se envolvam em atividades que sejam gratificantes, agradáveis, estimulantes e excitantes. Eu realmente não acho que isso seja difícil. As crianças são criativas, curiosas, querem saber coisas, querem entender as coisas, e, a menos que sejam submetidas a um processo, essas coisas ficam com elas o resto de sua vida. Se você tem oportunidade de seguir esse compromisso, é uma das coisas mais gratificantes da vida. Isso é verdade se você é um físico pesquisador ou se você é um carpinteiro. Você está tentando criar algo de valor, lidando com um problema difícil e tentando resolvê-lo. Acho que isso é o que faz funcionar o tipo de coisa que você quer fazer.

Em uma universidade que funciona razoavelmente, você encontra pessoas que trabalham o tempo todo porque elas adoram o que estão fazendo. É o que elas querem fazer. Elas receberam a oportunidade, têm os recursos e são encorajadas a serem livres, independentes e criativos. O que poderia ser melhor? É o que elas gostam de fazer. E isso, repito, pode ser feito em qualquer nível.

Vale a pena pensar sobre alguns dos programas educacionais imaginativos e criativos que estão sendo desenvolvidos em diferentes níveis. Alguém me descreveu, dias atrás, um programa de ciência que está usando em escolas de ensino médio, por meio do qual os alunos são provocados por uma pergunta interessante: "Como pode um mosquito voar na chuva?" Essa é uma pergunta difícil quando você pensa sobre isso. Se algo batesse em um ser humano com a força com que um pingo de chuva bate em um mosquito ele seria achatado imediatamente. Então como é que o mosquito não é esmagado instantaneamente? E como pode o mosquito continuar voando? Responder essa pergunta é um trabalho muito difícil que envolve entrar em questões de matemática, física e biologia, questões suficientemente desafiadoras  para alguém querer encontrar uma resposta para elas.

Isso é o que a educação deve ser em todos os níveis, desde o jardim de infância. Existem programas de jardim de infância em que, por exemplo, é dada uma coleção de pequenos objetos para cada criança: seixos, conchas, sementes, e coisas assim. Em seguida, a classe recebe a tarefa de descobrir quais são as sementes. O processo começa com o que chamam de uma "conferência científica": as crianças conversam entre si e tentam descobrir quais são as sementes. Há alguma orientação de professores, é claro, mas a idéia é fazer com que as crianças pensem sobre o tema. Depois de um tempo, são feitas várias experiências para tentar descobrir quais são as sementes. Nesse ponto, cada criança recebe uma lupa e, com a ajuda do professor, olham para dentros das rachaduras da semente e encontram o embrião que faz a semente crescer. Estas crianças aprendem algo, realmente, não apenas sobre sementes e o que faz com que as coisas cresçam, mas também sobre como descobrir. Eles estão aprendendo a alegria da descoberta e da criação, e é isso o que você carrega de forma independente, para fora da sala de aula, para além de qualquer curso.

O mesmo vale para toda a educação, até a pós-graduação. Em um seminário de pós-graduação razoável, você não esperar que os alunos baixem a cabeça para copiar e depois repetir o que você diz. Você espera que eles lhe digam quando você está errado ou que cheguem a novas idéias, para desafiar, para perseguir algum sentido que não tinha sido pensado antes. Isso é o que a verdadeira educação é em todos os níveis, e é isso o que deve ser incentivado. Esse deveria ser o propósito da educação. Não é para despejar informações na cabeça de alguém, que depois vai “vazar” esse conteúdo, mas para permitir que eles se tornem pessoas criativas, independentes, capazes de encontrar emoção na descoberta e criação e criatividade em qualquer nível ou em qualquer domínio de seus interesses.

Sobre o uso da retórica corporativa contra as corporações

Isso é como perguntar como você deve justificar, perante o proprietário de escravos, que as pessoas não devem ser escravos. Você está em um nível de investigação moral onde provavelmente é muito difícil encontrar respostas. Somos seres humanos com direitos humanos. É bom para o indivíduo, é bom para a sociedade e mesmo para a economia, em sentido estrito, que as pessoas sejam criativas, independentes e livres. Todos se beneficiam se as pessoas são capazes de participar, de controlar seu destino, de trabalhar uns com os outros. Isso pode não maximizar o lucro e dominação, mas por que deveríamos perseguir esses valores?

Conselhos para professor temporário organizar sindicatos

Você sabe melhor do que eu o que tem que ser feito, o tipo de problemas que você enfrenta . Então, vá em frente e faça o que tem que ser feito. Não se deixe intimidar , não se assuste, e reconheça que o futuro pode estar em nossas mãos, se estamos dispostos a compreendê-lo.


(*) Noam Chomsky OCCUPY: Class War, Rebellion and Solidarity é publicado pela Zuccotti Park Press .


[NT] A expressão “Adjunct Faculty” utilizada por Chomsky no texto original designa, nos Estados Unidos, os professores universitários contratados em regime temporário para dar um curso durante um semestre ou um ano, não possuindo qualquer estabilidade de emprego. Essa categoria não corresponde ao “professor adjunto” das universidades públicas brasileiras, que são concursados e possuem estabilidade de emprego.

Tradução: Louise Antonia León