É imperativo destacar a história do desenvolvimento da ciência, da
tecnologia e da comunicação no Brasil, principalmente no período do regime
militar, momento de cerceamento à livre circulação do pensamento criativo e da
informação. São conhecimentos que se desenvolvem de forma integrada. Mesmo sob o controle da ditadura, a difusão
do conhecimento e a disseminação da ciência fluem sob uma determinada realidade
que se altera ao longo dos anos. A perseguição e exílio a cientistas caracterizam
o cenário no período militar, mesmo diante da forte pressão do regime, há a necessidade
de desenvolver a pesquisa e a ciência no país, pois são demandas importantes e
estratégicas para a estabilidade do próprio regime naquele momento.
O governo militar dependia dos esforços de cientistas opositores no
campo da pesquisa. O compromisso entre essas duas forças, a política e a
científica se fizeram notar a partir do avanço da agricultura, com o fortalecimento
da EMBRAPA e as pesquisas em informática e em engenharia aeroespacial, que também
são destaques e resultado dessa ambigüidade ciência e ditadura. Pressupunha
naquela conjuntura a convergência entre comunicação e ciência; discussões realizadas
no interior do SBPC no Rio de Janeiro repercutiam na imprensa. O surgimento dos
cursos de pós-graduação de ciências humanas é outro imperativo destacável na
ambígua relação ciência e regime militar.
Do ponto de vista da ciência da comunicação, são destaques a mobilização
e criação de cursos de comunicação desvinculados de departamentos de filosofia
e de letras. O surgimento da Revista científica Comunicações & Problemas
empreendido por Luiz Beltrão em 1965 na cidade do Recife dá conta da evolução
de pesquisa na área. Após a transferência da revista para Brasília sua
sobrevivência perdurou até 1969 em virtude da forte pressão exercida pela
ditadura. Com a censura à cobertura política, se inicia um processo de
segmentação da comunicação e, por conseguinte do jornalismo. Em meados de 1978
o Jornal Folha de São Paulo sob a orientação e coordenação do professor de
física da Unicamp Rogério Cesar de Cerqueira Leite inaugura uma página
destinada à divulgação e ao jornalismo científico. A idéia do professor
Cerqueira Leite com a página era estimular o interesse do público pela ciência.
A partir dessas experiências o processo de divulgação científica através
de páginas especiais e editorias de jornais impressos se projetam como um
elemento essencial ao desenvolvimento ainda embrionário da comunicação
científica no Brasil. O desafio, antes e após a anistia geral e irrestrita era de
criar mecanismos de comunicação que pudesse facilitar em todos os aspectos a
disseminação e a divulgação da produção científica e tecnológica do Brasil.
Essa é uma tarefa que se constitui permanente, sobretudo com as perspectivas
advindas das redes de computadores em expansão nos EUA e com as possibilidades
ainda desconhecidas da internet, também nos EUA. Mais tarde a internet, de natureza tecnológica
se configura como um potencial meio de comunicação alterando e inovando as
formas de relacionamento em todos os aspectos da realidade no dia a dia. O regresso
do Brasil à democracia e a necessidade de se construir uma sociedade plena de
direitos demandou dos centros de pesquisas, instituições, de cientistas e
jornalistas um esforço no sentido garantir um novo modelo de sociedade, novos
formatos e maneiras diferentes de difundir a informação, com criatividade,
crítica e opinião.
O debate acerca da comunicação científica numa sociedade democrática é
abrangente, permanente e inesgotável. Ambos estão entrelaçados, dialogam entre
si, são abertos e suscetíveis ao novo. As transformações no campo social, a
preservação, ampliação e criação de novos direitos inserem o país em um novo
marco político e caracteriza a participação direta e indireta da população nos
processos de decisão. No campo da ciência e da tecnologia o destaque para o
avanço da internet e a constituição de uma nova sociedade, a da informação em
rede. A virtualização da informação nos últimos anos e os seus impactos nos
padrões de relacionamento na sociedade, articulados com o potencial de novas ferramentas
de comunicação imprime freqüentes mudanças e inovações na forma de transmitir e
comunicar a produção e criação de culturas e conhecimentos. A comunicação
científica é a mãe de todos os meios de difusão e socialização do conhecimento
e da informação, cabe a ela nesse novo marco político coordenar e executar as
inúmeras possibilidades e potencialidades da comunicação (periódicos, portais,
programas de rádio e TV, redes sociais, encontros, seminários, etc.)
Duas tarefas aparentemente são essenciais e freqüentes no meio
acadêmico; o aperfeiçoamento na maneira de comunicar a experiência e a produção
científica através dos novos meios e a ampliação da audiência dessas
informações e conhecimentos para a sociedade. Utilizar o potencial dos
mecanismos desses novos meios de comunicação para a difusão do conhecimento
científico, formal, informal e semi-formal tem sido objeto constante de
debates, seminários, publicações, etc.
Segundo o professor Cerqueira Leite a boa divulgação científica se
confunde com o bom jornalismo científico. A questão primordial é tornar
acessível à complexa pauta científica ao cidadão comum distante de laboratórios
e completamente alheio ao tipo de linguagem usado nos mais diferentes meios de
divulgação da ciência. Observar os critérios técnicos e coloquiais do
jornalismo praticado diariamente em jornais, TVs, rádios e internet é uma
estratégia que vem sendo utilizado, mas que carece de inovação se considerado
as inúmeras plataformas de comunicação disponíveis literalmente nas mãos das
pessoas nas grandes, médias e pequenas cidades. A boa divulgação científica por
meio da prática do bom jornalismo deve intermediar e interpretar a informação
científica de modo a torná-la atraente e acessível a todos de forma democrática
e didática.
Se levado em conta a informação como um bem social, o papel da
comunicação científica além de cumprir o objetivo de disseminar a cultura e o
conhecimento produzido no interior das instituições de pesquisas, cumpre também
direta e indiretamente uma tarefa determinante, quando ela fornece subsídios,
estudos, estatísticas e tecnologia, através dos mais variados meios de
comunicação elementos concretos corroborando decididamente com o processo de consolidação
e participação política e científica numa sociedade democrática.
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